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Psicodélicos e Ayahuasca: o que diz a ciência moderna

  • Patricial Maciel
  • 19 de set.
  • 5 min de leitura

ayahuasca

Nos últimos anos, a ciência moderna tem redescoberto o potencial terapêutico dos psicodélicos. Substâncias que desde a década de 70 foram relegadas apenas a contextos culturais ou a debates polêmicos sobre drogas passaram a ser investigadas em universidades e centros de pesquisa de referência mundial. Entre elas, a ayahuasca ocupa um lugar de destaque por reunir aspectos únicos: raízes no conhecimento ancestral, composição farmacológica multialvo e resultados promissores em ensaios clínicos e dados de mundo real.

Este artigo explora como a ciência contemporânea tem estudado a ayahuasca, quais evidências já foram consolidadas, quais riscos e desafios ainda existem e de que forma essa medicina tradicional amazônica pode inspirar o futuro das terapias assistidas por psicodélicos.


Psicodélicos na ciência contemporânea

Os psicodélicos mais conhecidos, como psilocibina, LSD e DMT, compartilham a capacidade de ativar receptores serotoninérgicos, principalmente o 5-HT2A. Essa interação provoca alterações profundas na percepção, cognição e emoção, mas também gera efeitos de reorganização funcional no cérebro. Modelos recentes, como a teoria REBUS (Relaxed Beliefs Under Psychedelics), explicam como os psicodélicos reduzem a rigidez de padrões mentais, permitindo maior flexibilidade psicológica.

Estudos clínicos demonstram que essa plasticidade pode ser crucial em condições como depressão resistente, ansiedade e transtornos relacionados ao uso de substâncias. Nesse cenário, a ayahuasca se destaca por já ter sido objeto de ensaios controlados em humanos, além de décadas de uso ritual e observacional documentados.


O que é a ayahuasca

A ayahuasca é uma medicina ancestral, em formato de um chá preparado a partir da combinação de duas plantas amazônicas: o cipó Banisteriopsis caapi e as folhas de Psychotria viridis. O cipó contém β-carbolinas (harmine, harmaline e tetrahidro-harmine), que atuam como inibidores reversíveis da enzima MAO-A. Isso permite que a dimetiltriptamina (DMT), presente nas folhas, seja ativa por via oral, atingindo o cérebro e produzindo seus efeitos psicodélicos.

Essa combinação única faz da ayahuasca uma ferramenta singular para a ciência. Diferentemente de outros psicodélicos, que são administrados em doses sintéticas isoladas, a medicina preserva a interação entre múltiplos compostos, o que pode potencializar efeitos terapêuticos e influenciar a tolerabilidade clínica.


Mecanismos de ação no cérebro

Pesquisas de neuroimagem mostram que a ayahuasca reduz a atividade da Default Mode Network, rede cerebral associada ao pensamento autorreferente e à ruminação — processos exacerbados em quadros depressivos. O efeito é comparável ao observado com psilocibina e LSD.

Além disso, estudos sugerem aumento da neuroplasticidade, com maior expressão de genes relacionados ao crescimento neural. Essas descobertas ajudam a explicar os relatos de experiências transformadoras, sensação de “renovação mental” e maior abertura emocional após o uso da medicina.


Evidências clínicas com ayahuasca

Um dos ensaios clínicos mais relevantes, conduzido no Brasil, demonstrou que uma única dose de ayahuasca reduziu sintomas de depressão resistente de forma rápida e significativa, com efeitos perceptíveis em apenas 24 horas e durando até três semanas em alguns pacientes.

Pesquisas observacionais também apontam melhora em indicadores de saúde mental, redução de comportamentos aditivos e maior bem-estar subjetivo em grupos que utilizam a medicina em contextos ritualísticos. Ainda que promissores, esses dados reforçam a necessidade de mais ensaios controlados, multicêntricos e com acompanhamento de longo prazo.


Comparação com outros psicodélicos

Enquanto a maior parte dos ensaios clínicos avançados em larga escala se concentra na psilocibina, a ayahuasca já demonstra resultados consistentes em estudos menores e observacionais. A principal diferença é que, enquanto psilocibina e LSD são compostos isolados, a ayahuasca envolve múltiplos alcaloides que interagem entre si.

Essa característica torna os protocolos de pesquisa mais complexos, mas também abre espaço para descobertas singulares, especialmente em relação ao impacto das β-carbolinas sobre neurotransmissores além da serotonina.


Segurança, riscos e contraindicações

Embora seja considerada segura em ambientes controlados, a ayahuasca pode provocar náusea, vômito e alterações transitórias na pressão arterial e frequência cardíaca. Por conter inibidores de MAO, a medicina exige cautela em pessoas que utilizam antidepressivos (como ISRS) ou apresentam condições cardíacas.

Também não é recomendada para indivíduos com histórico de psicose ou transtornos graves de personalidade, já que pode desencadear sintomas agudos. Por isso, a triagem médica, o acompanhamento adequado e o ambiente de suporte — que inclui preparação, condução profissional e integração após a experiência — são fundamentais.


Set, setting e modelos de cuidado

A experiência com a ayahuasca não depende apenas da substância, mas também do contexto em que é administrada. Pesquisas reforçam a importância do preparo psicológico, da presença de profissionais treinados durante a sessão e da integração após a experiência.

👉 Integração significa o acompanhamento terapêutico que ajuda a processar e dar sentido às experiências vividas, transformando insights em benefícios duradouros para a saúde mental.

Esse cuidado aumenta a eficácia terapêutica, ajuda a consolidar os resultados obtidos e minimiza riscos de experiências desafiadoras. Embora o uso hospitalar e o uso ritualístico sejam diferentes em muitos aspectos, ambos demonstram benefícios fisiológicos, psicológicos e emocionais do consumo da medicina.


Aspectos regulatórios e éticos

No Brasil, a ayahuasca é regulamentada para uso religioso desde os anos 1980, mas a pesquisa clínica e o desenvolvimento farmacêutico ainda estão em construção. Questões éticas como a apropriação indevida do conhecimento tradicional, a necessidade de parcerias com povos originários e a repartição justa de benefícios são centrais nesse debate.

A ciência moderna busca caminhos para transformar a ayahuasca em formulações padronizadas e reguladas, sem perder de vista a importância cultural e histórica de sua origem. A Ayamed sempre está em busca de parcerias com entidades indígenas detentoras do conhecimento tradicional associado, para participação nos projetos e no desenvolvimento de um modelo justo e inovador de repartição de benefícios.


Padronização e desenvolvimento farmacotécnico

Um dos maiores desafios científicos é garantir a padronização da ayahuasca. A variabilidade na concentração de DMT e β-carbolinas entre diferentes preparos dificulta a replicabilidade em pesquisas clínicas.

O desenvolvimento farmacotécnico precisa estabelecer parâmetros de pureza, dose e estabilidade química para que a medicina possa ser transformada em medicamentos seguros e reconhecidos por agências regulatórias. Esse processo é essencial para que a ayahuasca avance do campo da tradição para o da medicina baseada em evidências.


Perspectivas futuras

O futuro da ayahuasca na medicina moderna depende de ensaios clínicos robustos, integração com modelos de saúde mental e colaboração ética com comunidades tradicionais. A tendência é que os próximos anos tragam mais evidências sobre sua eficácia em depressão, ansiedade e transtornos de dependência, além de maior clareza sobre mecanismos biológicos e protocolos de segurança.


Conclusão e visão da Ayamed

A ayahuasca representa um dos pontos de encontro mais fascinantes entre conhecimento ancestral e ciência moderna. Pesquisas iniciais já demonstraram benefícios reais em saúde mental, ao mesmo tempo em que ressaltam a necessidade de rigor metodológico, padronização farmacêutica e responsabilidade ética.

Na Ayamed, acreditamos que o futuro da medicina passa pelo equilíbrio entre raízes ancestrais, ciência moderna e inovação responsável. Por isso, estamos sempre em busca de parcerias que garantam: -  Reconhecimento e respeito ao conhecimento dos Povos Originários- Consulta livre, prévia e informada, com repartição justa de benefícios- Produção sustentável, em áreas de plantio dedicadas e protegidas, sem extrativismo predatório- Acesso ao medicamento por meio de sistemas públicos de saúde, beneficiando quem mais precisa- Desenvolvimento de formulações seguras, eficazes e com menos efeitos colaterais

Nosso compromisso é transformar esse potencial em medicamentos naturais seguros, regulados e sustentáveis, reconhecendo e recompensando as comunidades que guardaram essa sabedoria por séculos.


👉 Conheça mais sobre como estamos desenvolvendo soluções inovadoras a partir da ayahuasca: fale com a Ayamed.


 
 
 

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